Pesquisa


Projetos Mais Acessados

  1. Comunicação e cultura na Johannes Keller Schule em São Caetano do Sul
  2. A Segunda Guerra Mundial no ABC e a trajetória de seus combatentes
  3. Ativismo feminista e questão racial
  4. Comunicação, Identidade e Memória na Comunidade Germânica no ABC
  5. Culturas e linguagem: metáforas em identidades, ritos e cerimônias nas
  6. Associações alemãs em São Paulo
  7. Punks do ABC: bandas, gangues e idéias de um movimento cultural...1980
  8. Risos e lágrimas:o teatro amador em Santo André na década de 1960
  9. O Grupo Teatro da Cidade: experiência profissional nos palcos do ABC..
  10. A alma feminina nos palcos do ABC: o papel das atrizes (1965 a 1985)

Todos os Temas
Todos os Projetos

Eliseu José Moreno Parra

Após o falecimento de seu pai, quando tinha apenas dois anos de idade, sua família mudou-se para Bauru (SP) onde cresceu e estudou. Em 9159, sua família muda-se novamente e vem para Santo André (SP), quando com 15 anos de idade logo consegue um emprego como office boy na Companhia Antarctica Paulista. Chegou a estudar Jornalismo por dois anos, mas devido ao regime militar parou. Ingressou então no curso de Administração da ESAN em São Caetano do Sul, que devido a manifestações dos alunos, o curso migrou para a Faculdade de Ciências Econômicas, Políticas e Sociais, que pouco depois mudou a nomenclatura para IMES, hoje USCS. Durante o período de graduação fez parte do Diretório Acadêmico e fundou o primeiro jornal da faculdade, chamado Mirante Estudantil. A sua turma foi a primeira turma de formandos do curso de Administração do IMES em 1971. Após sair da Antarctica, trabalhou na Mercedes Benz, na Ford e atualmente (2018) na Volkswagen. E sempre que possível participa dos encontros organizados com os amigos da faculdade, da primeira turma de administração. Imagem do Depoente
Nome:Eliseu José Moreno Parra
Nascimento:05/04/1944
Gênero:Masculino
Profissão:Administrador
Nacionalidade:Brasil
Naturalidade:Piratininga (SP)

TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO DE ELISEU JOSÉ MORENO PARRA EM 29/03/2017
Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)
Núcleo de Pesquisas Memórias do ABC e Laboratório Hipermídias
Depoimento de Eliseu José Moreno Parra, 73 anos.
São Caetano do Sul, 07 de novembro de 2017.
Pesquisadores: Luciano Cruz
Equipe técnica: Ileane Ribeiro
Transcritora: Bruna Moura

Pergunta:
Senhor Eliseu, eu queria então que o senhor começasse falando nome, data e local de nascimento, por favor.
Resposta:
Bom, meu nome é Eliseu José Moreno Parra, sou ex-aluno do IMES, formando de 1971, eu nasci em 05 de abril de 1944, na cidade de Piratininga, no estado de São Paulo.
Pergunta:
Em Piratininga! Quais são as lembranças que o senhor tem da infância em Piratininga?
Resposta:
Na verdade, em Piratininga eu fiquei pouco tempo, porque meu pai trabalhava em uma fazenda de carpinteiro e ele, infelizmente, quando eu tinha dois anos de idade, ele veio a falecer. Ele contraiu uma febre que foi mal detectada, e houve uma medicação que não correspondeu ao que ele precisava, ele veio a falecer. Como a gente morava na fazenda, e eu era o menor da família. Eu tinha mais dois irmãos, uma irmã e um irmão, eu tinha dois anos, meu irmão tinha cinco e a minha irmã sete anos, e a minha mãe. Então, minha mãe não teria condições de ficar dentro da fazenda ocupando uma casa, ou alguma coisa nesse sentido, e então nós tivemos que sair da fazenda e aí nós mudamos para uma cidade próxima, que é Bauru, e ali sim comecei a fazer a minha vida, mas vivendo na casa dos meus avós. Então, praticamente, além de sermos criados pela minha mãe, que ela não se casou mais, então ela fez o papel de pai e mãe. E ali a gente ficou em Bauru estudando, fazendo primário, e fiz até o colegial em Bauru, uma parte dele quase que eu termino, e aí no final minha mãe resolveu que São Paulo era o melhor caminho para a gente desenvolver alguma atividade rentável, porque nós não tínhamos, assim, condições de, em Bauru, ter alguma profissão ou alguma coisa assim, mais desenvolvida. E aí nós viemos para Santo André, isso em 1959. Em 1959 então nós viemos para Santo André, coincidentemente passamos, pela minha memória, aqui nesse local onde é o IMES, e aí nós fomos morar em Santo André, eu logo depois arrumei um emprego e comecei a minha vida profissional aos 15 anos já registrado numa empresa.
Pergunta:
Desculpa interromper, mas o senhor estava falando lá de Bauru. Como era Bauru aí nos anos 1950?
Resposta:
Bauru na verdade, não era tão...assim, ele era desenvolvido para a região, porque já se estudava até a possibilidade de ser a capital de São Paulo, se falava na época, porque ele era um entroncamento ferroviário. Por ali passavam a Noroeste do Brasil, a Paulista que era uma empresa férrea, e também a Sorocabana. Bauru era um divisor, mercadorias que eram para outros estados, no caso do Mato Grosso, esses locais, passavam por Bauru, então a malha ferroviária era muito grande ali. Então a cidade se desenvolvia em torno desse processo de transporte praticamente, entendeu? [5'] E Bauru na época eram somente escolas, colégio, alguma coisa, não existiam faculdades, nada disso, coisa que hoje é uma cidade que tem universidade, tem tudo, e cresceu muito de lá para cá, claro.
Pergunta:
Como era ser criança lá em Bauru?
Resposta:
Eu fui realmente uma criança que aproveitou a infância, porque eu morava no último quarteirão antes de chegar no mato, vai. Então a gente saía da minha casa e ia pro mato, colhia frutos, matava passarinho, infelizmente, né? [risos], coisa que hoje a gente jamais faria e nem aconselha fazer, naquela época era a diversão das crianças, entendeu? Da gente ir até o aeroporto, que não era tão longe de casa, via os aviões aterrissarem, planadores, essas coisas, então minha infância realmente em Bauru foi muito proveitosa. Eu frequentei até o estádio onde o Pelé jogava, porque o Pelé se fez dentro de Bauru, no BAC, que era o Bauru Atlético Clube. Depois, ele foi descoberto pelo Santos e acabou vindo para cá, mas nós íamos lá nesse campo onde ele jogava, e assistíamos os jogos, porque a gente era criança, eu aprendi a andar de bicicleta até dentro desse estádio aí.
Pergunta:
Mas o senhor chegou a ver o Pelé?
Resposta:
Cheguei a ver.
Pergunta:
Chegou a ver o Pelé jogando no BAC ainda?
Resposta:
Não, não, eu não cheguei porque a gente não tinha essa imagem ainda, eu tinha 15 anos, se não me engano ele tem um pouco mais de idade que a gente, mas eu cheguei a conhecer o pai dele, que o pai dele trabalhava como contínuo no Banco do Brasil, e eu trabalhava, já com 12 anos, já trabalhava numa alfaiataria cujo dono era amigo do pai do Pelé, do Dondinho, que era o pai dele. Ele era contínuo no Banco do Brasil, o pai dele. Então a gente tem essas imagens, que depois ao mudar para cá, e começar a entender as coisas e a gostar de futebol, e sei lá, talvez me tornei corinthiano mais fanático nessa época, entendeu? Aí eu sofri com o Pelé. Então é um bauruense, judiando de um corinthiano que veio de Bauru, mas realmente a minha infância foi muito representativa, e também representa o que eu trouxe para o futuro, a vida que nós tínhamos, as dificuldades, foi importante demais.
Pergunta:
Como foi essa mudança para Santo André, quer dizer, quais são as lembranças que o senhor tem da sua chegada, da adaptação a uma nova cidade.
Resposta:
Olha, a mudança que a gente fez foi até muito curiosa, porque naquela época você não podia vir na carroceria de um caminhão, mas a nossa mudança, nós mudamos com uma outra família até para aproveitar o caminhão que custava muito caro o transporte. Então, nós viemos com uma outra família que eles ficaram em Parelheiros, em Santo Amaro, primeiro deixou essa mudança lá, e depois trouxe a nossa mudança para Santo André. Então nós deixamos uma família, passamos pelo Borba Gato, que é uma imagem que eu lembro muito bem, na avenida Santo Amaro, eu tenho isso na memória ainda, e nós viemos em cima do caminhão escondido, e quando era parado em algum posto policial porque tinha que pesar o caminhão, nós ficávamos quietinhos lá dentro porque não podia fazer barulho, não ser descoberto, se não o caminhão ia que ser parado e descer, provavelmente, não sei como é que seria resolvido isso, mas nós viemos em cima do caminhão. Viajamos, saímos se não me engano umas quatro horas da tarde, do dia 15 de janeiro de 1959 e chegamos aqui 16 de janeiro, acho que umas cinco horas da tarde, por aí. [10'] Então foi uma viagem que também ficou na lembrança, como uma passagem da infância, porque eu ainda tinha 14 para 15 anos de idade.
Pergunta:
O senhor falou que, aqui em Santo André, o senhor começou já a atuar profissionalmente. Como foi essa sua entrada no mercado de trabalho?
Resposta:
Na verdade, nós mudamos para a casa de uma pessoa, porque antes de nós virmos, a minha irmã, em Bauru, trabalhava nas lojas Americanas, ela era uma gerente de loja, ela implantava todo o layout de uma loja, e o gerente daquela loja de Bauru foi transferido aqui para Santo André para abrir as lojas Americanas de Santo André, e ele resolveu trazê-la para montar a loja aqui de Santo André. Coincidentemente, ele tinha uma casa para alugar, que era um quarto, cozinha e banheiro, e nós viemos para morar nessa casa, e ficamos morando ali por um tempo, tinha um amigo que trabalhava na Companhia Antarctica Paulista, fábrica de bebidas em São Paulo, e aí ele me convidou, minha mãe pediu, nós precisávamos trabalhar, e aí eu fui lá para fazer o teste na Antarctica, e no dia 19 de maio de 1959, eu entrei para trabalhar na Antárctica. Antes eu também já tinha prestado um SENAI para entrar na General Elétrica, que era aqui em Santo André, também tinha passado, mas o salário que eu iria receber na Antártica e comecei a receber, foi muito mais convidativo, entendeu. Eu ganhava provavelmente um salário que se equiparava a um salário de maior, tendo 15 anos de idade. Era muito bem pago.
Pergunta:
Qual era a sua ocupação?
Resposta:
Era contínuo, office boy. Aí eu fiquei até uns 17 anos, por aí, como contínuo, e depois disso eu fui promovido para a área de almoxarifado, e depois eu fui para uma área de contabilidade, contas a pagar, contas a receber, e ali fui crescendo dentro da empresa, mas chegou em 1967, quando surgiu a implantação do Fundo de Garantia, a empresa, ou a pessoa fazia um acordo com eles deixava todo o tempo anterior para trás e começava de novo, ou fazia um acordo para sair. Eu preferi fazer um acordo para sair porque eu já tinha novos horizontes, isso já foi em 1970, eu já estava estudando no IMES. Eu já tinha uma visão um pouco mais ampliada e vislumbrava alguma coisa melhor, porque eu via que o processo lá seria moroso para crescer, e foi assim que...
Pergunta:
O senhor citou o IMES, mas antes a gente precisa falar da ESAN. Como foi o seu despertar de interesse para chegar na ESAN?
Resposta:
Na verdade, administração era uma coisa nova na nossa época. Quando você falava em uma profissão, na minha época, em 1967, 1966, era contador, estudar contabilidade, ou fazer direito. Então a gente achava que no nosso tempo advogado já tinha demais, entendeu? [15'] Tinha que existir alguma outra coisa para a gente fazer. E a região aqui não existia a Fundação. Existia a ESAN, que tinha uma concessão da prefeitura de São Caetano, para abrir uma faculdade aqui em São Caetano e em São Bernardo também, uma unidade. Aí eu fui fazer o vestibular, eu achei que administração, por ser um curso de amplitude maior do que economia, quer dizer, a variedade de matérias para se estudar, e se desenvolver, eu falei: ‘uma dessas serve para mim'. Então eu fui para o lado administração e preferi fazer o vestibular para administração. Eu passei, na verdade, na PUC em São Paulo primeiro, lá na São Joaquim, e depois quando abriram o vestibular aqui em São Caetano para administração, eu fiz o vestibular aqui também, em São Caetano, e também passei. Quer dizer, existe uma curiosidade que o que me levou também a querer São Caetano é porque a minha namorada então na época, ela tinha passado na PUC para fazer Serviço Social, cuja faculdade era em frente à General Motors, os portões da General Motors. Então, eu aliei o útil ao necessário [risos]. Aí eu preferi vim para São Caetano porque aí eu tinha oportunidade de juntar as duas coisas. E aí foi quando eu entrei para, no caso, a ESAN. A ESAN funcionava numa escola municipal, que era um grupo escolar durante o dia e virava faculdade à noite, então nós usávamos aquelas carteirinhas de aluno primário, e lá ficamos nós durante um ano e pouco. Nós já éramos assim, um pouco rebeldes em relação ao momento do país, a gente vivia aquela turbulência toda que existia no país, e queria sempre mais. E a ESAN não veio ao encontro com o que a gente esperava, como faculdade e tal, então nós começamos, juntamos um grupo, liderado pelo Angelo Marchetti, que era um líder no nosso grupo, e mais alguns alunos, e a gente constantemente vinha na câmara municipal solicitar que a gente fosse ingressado aqui no IMES, que já existia em São Caetano, com somente, eu acho que só tinha Ciências Sociais, Políticas e Sociais, então a gente começou a pleitear, fazer abaixo assinado, fizemos passeata em São Caetano, solicitando ao prefeito que a gente migrasse aqui para, no caso, o IMES. E foi aí que nós recebemos a grande notícia de que eles acataram o nosso pedido e aí nós migramos, no segundo ano nós já viemos para o IMES, por isso nós fomos a primeira turma de formandos na área de Administração do IMES, que nós começamos aqui dentro.
Pergunta:
Onde ficava essa escola da ESAN?
Resposta:
A ESAN ficava na vila Gerty, em São Caetano, bem lá no alto [20']. Tem, acho que é a avenida Visconde de Inhaúma se não me engano, do lado de baixo da Visconde de Inhaúma, era uma escolinha pequenininha, não tinha estacionamento, nada, os carros ficavam na rua, a gente ficava lá utilizando aquele local, mas a gente não se entendia como um universitário, porque não tinha um padrão de universidade. Os professores também se revoltavam com aquilo, então existia muita falta de professor. Se queimava uma lâmpada no prédio, não sei se não avisavam a prefeitura, então nós fomos nos revoltando com a situação que a gente tinha, que não era aquilo que a gente queria, queria alguma coisa melhor. Por isso que a gente começou a correr atrás e realmente deu resultado.
Pergunta:
Vocês pleiteavam a municipalização do curso de administração, que passasse a ser incorporado pela faculdade de Ciências Políticas, Econômicas e Sociais, que estava começando já, mas ainda não estava no campus da Goiás, estava em uma unidade provisória. E aí, quando vocês conseguem, vocês já vão para o campus da Goiás?
Resposta:
Exatamente, inauguramos o campus da Goiás.
Pergunta:
Como foi esse momento? Como que era o campus ali, novinho, o que você se recorda?
Resposta:
Olha, para nós, foi mudar da água para o vinho, porque nós vínhamos de uma escolinha primária, lá das cadeirinhas, e a estrutura que o IMES oferecia já era algo que tinha um porte, a gente percebia que era possível ali...tinha salão nobre, tinham palestras, vinham convidados, essas coisas...o reitor, tinha tudo isso que a gente realmente percebeu que aí nós estávamos numa faculdade. A estrutura que tinha, que era oferecida, professores mais renomados, que já faziam parte do corpo docente, então a gente já sentia algo que ia ao encontro do que a gente esperava.
Pergunta:
Qual é a importância do IMES na vida do senhor?
Resposta:
Olha, o IMES, para mim, representou até o que eu sou hoje. Eu, graças a Deus, por esforço próprio, eu não peguei nenhuma DP no tempo que eu estava, e fiz até uma extensão universitária no IMES logo que eu saí, de matemática financeira, fiz de holística também aqui, e sempre que eu falo do IMES é com o maior prazer, porque o IMES deu para mim o que eu tenho hoje, eu consegui...trabalhei na Antarctica, depois eu saí da Antarctica e já fui para uma indústria automobilística, na Mercedes Benz, e depois eu fui para uma outra, que foi a Ford, e hoje eu até estou na Volkswagen, quer dizer, eu fui sendo levado pelo conhecimento que eu adquiri dentro do IMES, então eu acho que representou tudo para mim, representa ainda, porque eu ainda estou em atividade, embora eu tenha uma certa idade, eu ainda estou em atividade levando aquilo que eu aprendi dentro do IMES. Eu tive excelentes professores, tenho amigos até hoje, nós temos grupos de amigos que são daquela época, que a gente se reúne com constância, com frequência, então são coisas que eu levo na minha bagagem de vida, e quando eu conheço alguém que estuda aqui dentro, eu falo o melhor do que eu conseguiria tirar aqui dentro, recomendo que eles levem a sério, porque hoje é uma universidade com a maior seriedade possível, é isso que eu vejo na USCS [25'].
Pergunta:
O senhor citou os professores. O senhor se recorda de alguma aula em especial, de algum fato que tenha acontecido que te marcou nesses anos aí de universitário?
Resposta:
Olha, nós tínhamos, eu até comentei, nós tínhamos o Denis Donaire que, se não me engano, ele é professor ainda de estatística, né?
Pergunta:
Eu não sei, eu sei que ele faz parte do corpo docente da graduação e também do mestrado e doutorado em Administração.
Resposta:
E ele foi nosso professor para você ter uma ideia, ele fez parte dos professores, com quem nós estudamos. Teve o professor Contro, que era um professor de contabilidade também, que tinha um escritório muito grande também em São Paulo. Assim, de momento eu não lembro de mais ninguém, mas nós tivemos professores muito bons.
Pergunta:
Alguns professores, inclusive, vieram da ESAN também. O Contro foi um deles?
Resposta:
O Contro, se não me engano, ele veio junto, porque eu não sei se o grupo fez também uma escolha, ou foi perguntado, quem nós gostaríamos que continuasse com a gente e tal, eu acredito que tenha sido, porque o Contro me parece, ele veio com o pacote [risos].
Pergunta:
O senhor pegou, recentemente, ao se transformar em universidade, a universidade teve que mudar sua sigla, mudar sua nomenclatura e passou a assinar, digamos, como Universidade Municipal de São Caetano do Sul, daí USCS, embora o IMES esteja obviamente ligado à história da universidade. Mas você também, a sua turma, pegou uma transição. Quando vocês chegaram, a faculdade tinha uma nomenclatura, que era Faculdade de Ciências Econômicas, Políticas e Sociais, ao vir o curso de Administração ela se tornou Faculdade de Ciências Administrativas, Econômicas, Políticas e Sociais, e depois passou para IMES. Você se lembra desse momento, de como foi ali, se as pessoas reagiram: ‘vai mudar o nome, esse negócio de IMES não vai colar', como que foi esse momento?
Resposta:
Na verdade, quando nós chegamos na porta, no barranco ali na frente da Goiás, já existia o nome IMES. Então a gente tinha como descrição do nome o Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul. Como existia já esse curso, de Ciências Políticas e Sociais, houve realmente uma integração meio automática. A gente não sentiu essa mudança, nós sentimos sim, sair da ESAN, que já era um nome. Se você falar que estudava numa PUC, Pontifícia Universidade Católica, era assim, um nome respeitável. Aí nós viemos para o IMES. Como o IMES também era a primeira escola municipal aqui, e nós estávamos começando com ela, então a gente se sentiu orgulhosos porque nós estávamos abrindo uma possibilidade, quer dizer, abrindo um caminho dentro de São Caetano, do ABC, que como eu te falei, a Fundação não existia ainda, então o IMES inaugurou uma nova etapa, porque as indústrias já tinham uma referência de procurar pessoas e profissionais mais perto. Então a gente percebia que nós tínhamos futuro [30']. Nós poderíamos montar um currículo desde que nós fizéssemos a nossa parte bem feita. E eu acho que, por se tornar USCS, essas coisas, eu acho que a gente fez parte do processo, não é verdade?
Pergunta:
Como foi a sua trajetória depois da universidade?
Resposta:
Depois da universidade? Na verdade...foi sempre um crescer, entendeu? Eu não parei, eu fiz cursos e mais cursos, a informática foi um bem necessário, porque a gente sem isso não vive. Então, eu tive que me integrar, quer dizer, eu fiz especializações, eu fiz curso de aprimoramento profissional, tanto na minha área que é financeira, tudo isso, então a USCS já é um...acréscimo naquilo que eu já tinha na minha vida profissional.
Pergunta:
Eliseu, o senhor falou há pouco que indica a universidade, a USCS tem toda essa trajetória, e a gente está recebendo alunos aí, todo semestre chegam alunos novos. Muitos deles conhecem essa trajetória, porque os pais, os avós, os parentes estudaram aqui, e outros não. Nós temos, por exemplo, no curso de Medicina alunos que vêm de outros estados. Que mensagem o senhor deixaria para esse aluno que está entrando agora na universidade e não conhece essa instituição, não conhece a história dessa instituição?
Resposta:
Olha, para mim, a primeira recomendação é seriedade naquilo que ele escolheu por fazer. Quer dizer, se ele escolheu Medicina, se ele escolheu Administração, se ele escolheu Economia, Ciências Políticas e Sociais, Direito. Eu até deixei Direito por último, porque tem que fazer direito, entendeu? Quer dizer, se ele puder não ficar em uma profissão só, se ele é advogado, vamos supor, estudou para Direito, que ele também estenda um pouco mais, que ele não fique numa coisa só, para que ele crie um leque maior de oportunidades, que ele passe a conhecer outros campos. Eu comecei a minha vida também estudando Jornalismo, depois eu parei Jornalismo por causa do regime militar, mas era alguma coisa que eu também tinha em mim como vontade, eu não deixei de praticar. Eu fundei o primeiro jornal que teve no então IMES, eu fundei o primeiro jornal daqui.
Pergunta:
Como chamava?
Resposta:
Chamava Mirante Estudantil. Na verdade esse nome foi baseado de que todo estudante está em um mirante, ele está querendo ver onde ele pode chegar. Então, ele quer ver ao longe, e eu acho que todo estudante que entra aqui na USCS, ele tem que ter um mirante, uma visão, ele tem que enxergar o fim do túnel, mesmo que seja escuro, ele tem que se esforçar para conseguir aquilo e outras atividades, outros conhecimentos, para que ele consiga se ver bem no mercado, porque hoje é competição, só se sai bem quem é melhor. Ser igual, todo mundo é. Melhor, você é visto, você é reconhecido e você é comprado. Você vende o seu conhecimento melhor do que aquele que fica no marasmo e só vai achar que o que ele fez está bom, pode parar, entendeu? [35']
Pergunta:
Fale um pouquinho da criação do Mirante, como se dá, como que isso aconteceu?
Resposta:
Desculpe, eu...
Pergunta:
O Mirante, como que foi esse início do jornal?
Resposta:
Na verdade, nós não tínhamos verba. Eu fiz parte do DA. O Diretório, quando nós viemos da ESAN para o IMES no caso, um grupo de alunos liderados pelo Marchetti, se candidatou a fazer parte do DA e a tomar frente do DA, foi o primeiro grupo a ocupar o Diretório Acadêmico do IMES. Então...
Pergunta:
Já era o DACO, né?
Resposta:
É, já era o DACO, o Diretório Acadêmico Catorze de Outubro.
Pergunta:
Já tinha tido uma gestão do professor Antonio Carlos Gil de seis meses, é isso? E esse grupo...vocês chegando da ESAN, é o primeiro...
Resposta:
É o primeiro a ter uma formalização a nível de DA. Tudo era novidade para nós, nós éramos calouros em termos de direcionar as coisas, os alunos, alguma coisa nesse sentido de promover alguma coisa em prol dos alunos e conseguir alguma coisa. Nós não tínhamos verba, a gente fazia esse Mirante Estudantil, nós fazíamos entrevistas com os professores, ou colhíamos matéria, nós não tínhamos internet, não tínhamos o celular para conseguir matérias tão importantes ou mais amplas. Então, a gente usava da criatividade. Como eu tinha feito algum tempo...acho que dois anos de Jornalismo, eu usei um pouco da minha prática de layout de jornal, aquelas coisas, porque naquela época o jornal era montado, por letrinhas. Então, a gente fazia a matéria, redigia, pedia até para algum professor corrigir alguma coisa que tivesse dito ou não dito numa entrevista, entrevistávamos o Denis, o Contro, o professor a gente pedia, ou publicava alguma coisa que a prefeitura, o município, estava oferecendo. Nós participamos, até na época a prefeitura colocou aqui dentro a TI, a computação municipal todinha foi colocada aqui no IMES, era no subsolo, e eles ofereceram para os alunos participarem...da seleção, quem queria entrar para fazer parte. Nós também participamos, todos os alunos. Então, a gente era muito ativo, e a gente fazia coisas não de modo...não um trote, o nosso trote era diferenciado. Chegava a raspar o cabelo do calouro, vai, mas ao contrário, em vez de a gente dar bebida, ou qualquer coisa, escrachar o calouro, não. A gente pegava e pedia que ele trouxesse livros que ele tinha em casa que não utilizava, e a gente juntou. Enchemos um caminhão de livros que os alunos trouxeram que estavam em casa sem utilidade, e levamos para bibliotecas das escolas entendeu? E distribuímos mantimentos, coisas para entidades que tinham em São Caetano, a gente fazia essas coisas. [40'] Conseguimos também fazer um show do calouro, onde a gente fez um...registro de todas as habilidades musicais e teatrais que os alunos que estavam aqui tinha, calouros que estavam entrando, já veteranos, fizemos um show do calouro, onde teve...até teatro, teve banda de música. Tudo isso que ficou na história também do IMES porque a gente foi convidado a levar para outras faculdades esse grupo que foi formado assim. Então o IMES realmente, como eu disse, ele não só representa para mim um local onde eu estudei, eu aprendi a conviver com pessoas, amigos e a gostar até de estudar, porque aqui não era só um lugar que a gente vinha para estudar. A gente vinha até para encontrar os amigos, para aprender com eles e fazer trabalho juntos, e são amigos que a gente tem até hoje.
Pergunta:
E aquela namorada lá, rendeu?
Resposta:
Rendeu. Tanto rendeu que sou casado com ela há 46 anos [risos].
Pergunta:
Deu certo, não é? [risos]
Resposta:
Deu certo. O IMES representou também essa parte para mim. Eu tenho três netos hoje, e carrego comigo realmente lembranças muito boas daqui.
Pergunta:
Eliseu, tem algo mais que o senhor queria deixar registrado para o projeto?
Resposta:
Não, para mim está sendo um prazer, uma felicidade poder estar dando meu depoimento aqui na USCS, hoje USCS. Depois de 46 anos de formado aqui dentro, e perceber que a USCS está crescendo cada vez mais, e eu sempre falo, eu tenho um grande orgulho e felicidade em ter estado aqui pelo menos por quatro ou cinco anos seguidos, e aprender muito com os mestres que estavam aqui dentro e com alguns que estão ainda, é isso aí.
Pergunta:
É isso aí, Eliseu, só temos a agradecer pela participação, por ter ajudado a fazer essa universidade ser o que ela é hoje.
Resposta:
Eu é que agradeço, obrigado pela oportunidade.

Lista de siglas:
IMES: Instituto Municipal de Ensino Superior
BAC: Bauru Atlético Clube
SENAI: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
ESAN: Escola Superior de Administração de Negócios
PUC: Pontifícia Universidade Católica
DP: Dependência
USCS: Universidade Municipal de São Caetano do Sul
DA: Diretório Acadêmico
DACO: Diretório Acadêmico Catorze de Outubro
TI: Tecnologia da Informação

 


Acervo Hipermídia de Memórias do ABC - Universidade de São Caetano do Sul